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“Time Color” e “Sobre Pintura"
Exposições simultâneas de Gustavo Speridião em dois espaços.
As mostras aconteceram entre os dias 27 de fevereiro e 15 de maio de 2021, na Sé Galeria, nos Jardins, e no galpão do Espaço Fonte, na Vila Madalena-SP.

Duas exposições que dialogam entre si ocuparam espaços distintos simultaneamente na cidade de São Paulo. 
A começar pela exposição “Time Color”, de caráter mais intimista e que ocupa os dois andares da Sé Galeria, o visitante irá se deparar com objetos tridimensionais-textuais de volumes quadrados e de menores dimensões, feitos em gesso, que evocam os cadernos que o artista utiliza em seu processo criativo, além de impressos e o vídeo Time Color. Já na exposição “Sobre Pintura”, o artista explora pinturas-monumento através de telas em grande formato com características murais e que aspiram ao espaço público.


GUSTAVO SPERIDIÃO: UM QUEBRA-CABEÇA DA ARTE
Miguel Chaia


1. Os trabalhos de Gustavo Speridião e seus fundamentos conceituais compõem um amplo painel, como se fosse um quebra-cabeça, com peças que se encaixam, mas também causam fricções que ampliam a potência da produção do artista e reforçam a diversidade de suportes e linguagens nos quais ele transita com facilidade.

2. Nesse quebra-cabeça, estão peças decantadas das pinturas, dos desenhos, dos livros de artistas, da poesia, dos tridimensionais, do pensamento filosófico, do ativismo político e urbano e outras práticas a mais. Agora, nessa dupla de exposições na Galeria Sé, no início de 2021, o artista recorta sua produção e apresenta dois suportes e respectivas linguagens: a tela–pintura; o gesso–tridimensional. Entretanto, embora haja uma delimitação da produção a ser apresentada, as peças dos dois grupos de trabalhos portam toda a diversidade e especificidades da trajetória de Speridião. Nas diferenças, as peças se encaixam exatamente por possuírem em comum a concepção de arte e de mundo do artista. O fazer artístico está intimamente ligado ao pensamento ético-estético.

3. “Sobre pintura” é uma parte da atual mostra que ocorre em um galpão, espaço amplo, para receber pinturas-monumentos: telas de grande porte, com uma vocação operística e que aspiram o mural desejando o espaço público. Essas pinturas, geralmente com duas formas retangulares pouco delineadas sobrepostas de cor preta intensa, flutuam no espaço da tela e entre essas formas estão palavras ou elementos gráfico. Embora ancoradas na síntese e na simplicidade, essas grandes pinturas dialogam com a arquitetura, com o desenho, a escrita, a poesia e a política – uma peça de um quebra-cabeça tem necessidade da outra.

4. “Time color” é outra parte da exposição que se realiza no interior da Galeria Sé, espaço intimista, com tridimensionais-textuais: volumes quadrados de menor dimensão que se abrem para oferecer espaços internos, viscerais, como se fossem páginas de livro ou pequenas bocas de cena com legendas. Esses objetos retangulares repetem sua forma externa em moldes internos cavados no gesso contendo pequenas manchas de preto e palavras escritas. A característica textual desses trabalhos tridimensionais remete a um livro aberto ou a um espaço de representação. Esse conjunto de objetos configura uma instalação. Num sentido inverso, mas complementar às grandes pinturas, esses trabalhos duplamente retangulares aspiram a atiçar o olhar, nos fazer ler/ver a expressividade objetual, convidando à reflexão pausada. Os tridimensionais são pesados, multiplicam a gravidade, trazem o peso da matéria e da engenharia, mas com a densidade aliviada pela dimensão intimista e pela presença de suaves manchas de desenhos e de grafismos. O artista imprime graus de dimensionalidade a uma página de um caderno, criando um jogo de espelho entre o espaço externo e um interno.

5. Esses tridimensionais apontam para o significado recatado do teatro no pensamento de Speridião, uma vez que o teatro remete à apresentação, à atuação e à formação da consciência crítica. Percebe-se no artista uma identificação com a ironia e o método de Bertolt Brecht. Também na Sé, reforçando esse caráter textual, são exibidos desenhos, folhetos e o vídeo Time color.

6. O conjunto da obra de Gustavo compõe um quebra-cabeça, como já indica essa dupla exposição, cujas peças unitárias são tão relevantes quanto o total da produção – parte e todo estão conectados organicamente, se completam para buscar sentidos. Assim, se nessas duas mostras, há a proeminência da pintura, esta só se fortalece pelas contribuições originadas de outras esferas e linguagens da arte.

7. Por exemplo, as pinturas da mostra são simplesmente pinturas, mas – e aí entra a potência estética crescente propiciada pelo fator relacional – também são poemas visuais. Seja pela intencionalidade do artista de se revestir em poeta, seja pela inclusão das palavras ressignificando as relações formais construídas na tela. A palavra, ou frase curta, pelo seu enigma ou abertura para a liberdade do pensar possibilita uma nova organização dos acontecimentos e signos do plano. Assim, reforçando a imagem do quebra-cabeça para pensar a arte de Speridião, cabe indagar: qual peça se destaca, a da pintura ou da poesia? Impossível responder quando são duas peças fundamentais e complementares.

8. Gustavo Speridião se coloca no interior de uma consistente tendência da história da arte brasileira, aquela que recorre à palavra escrita, ao texto, para se fazer inteira. Assim, ele se inclui naquele caminho aberto por Mira Schendel, José Roberto Aguilar, Leonilson, Karin Lambrecht, Leonora de Barros e outros que poetizam nas artes plásticas ampliando os limites da linguagem. O trabalho de Speridião remete também aos irmãos Campos, Haroldo e Augusto, poetas concretos que fazem o caminho inverso, da base da literatura para as artes visuais.

9. Esse aspecto literário de Speridião é reforçado pela obsessiva dedicação à produção de cadernos / livros de artista – fonte do seu fazer artístico. E essa qualidade reverbera nas pinturas-monumentos e nos intimistas tridimensionais.

10. As formas retangulares, os quadrados inconclusos, se repetem nas telas e nos tridimensionais (com frequência) talvez desvelando uma estratégia de trabalho para incluir e valorizar, nas artes plásticas, a palavra desenhada e, por meio dela, explicitar a sua verve política, filosófica e política.

11. As pinturas e os tridimensionais trocam referências e signos entre si – possuem o quadrado, os retângulos com as bordas irregulares, a cor preta sozinha ocupando as áreas, grafismos rápidos e palavras indicativas – mas mantendo suas autonomias. Uma abre gentilmente espaço para outro, mesmo utilizando os mesmos recursos visuais.

12. Speridião, no seu trabalho artístico, cria repetitivamente manchas que insinuam formas geométricas, geralmente o retângulo. E, também, registra palavras nos suportes, com grande frequência, que insinuam verdades.

13. As cores utilizadas, principalmente a preta, mas também a vermelha, são cores gráficas, aquelas dos jornais e dos folhetos. Tons de cores que circulam no cotidiano urbano.

14. Todos os dois conjuntos dessa atual exposição são parcimoniosos, sintéticos. Nas pinturas, há o predomínio da larga escala e da cor preta dos quase retângulos. Os objetos guardam a escala do corpo humano, e se impõe o branco do gesso com suaves manchas cinzas ou pretas. Os retângulos, ou delineados irregularmente pelo pincel ou moldados no gesso, constituem construções modulares e repetitivas que estruturam o plano da tela ou o espaço circundante do objeto. Constantemente, nos dois conjuntos, estão presentes palavras, sozinhas ou em frases, que amplificam a reflexão e instigam a indagação.

15. Dessa reflexão nasce outra peça do quebra-cabeça montado por Speridião: a filosofia. Seu fazer artístico é uma forma de arte-conhecimento que gera ideias e conceitos a partir do olhar decifrador. E o filosofar visual/literário/poético vem constantemente acompanhado pelo bom humor, também desafiador. Assim, as formas, as manchas, as linhas e as palavras se unem na criação de um jogo lúdico para introduzir pistas de saberes. Deixando muito espaço a ser preenchido pelo observador, interessa ao artista abrir frestas para produzir um saber da arte sobre si mesma, um conhecimento das relações políticas e uma consciência da realidade.

16. O Tempo, a Práxis, a Realidade e a Arte são algumas dos temas recorrentes em Speridião. Por isso pinta nas suas telas (ou desenha nos papéis) palavras como: hora, era, parece, foi, perfect, pintura, ilusão, tempo, arte, missão, estrofe, lançamentos, amanhã, melodia, ou frases como “The adventure begins now. It is over” e “Sempre é temporário”. Na arte, entre outros temas, questiona a potência e o significado da pintura – reflete sobre o plano pictórico, indagando sobre os desdobramentos da ação do artista sobre a superfície do tecido, da madeira... para pensar o conflito ilusão–realidade.

17. Em seu caderno de anotações, Gustavo Speridião escreveu: “‘O inventário de problemas’. Aborda a questão das – divisões do plano pictórico. (e as divisões políticas do espaço); - evidência a simplicidade das duas dimensões; - (plano) (plano 2D) (plano 4D)”. Essas preocupações se verificam em vários trabalhos, inclusive em uma tela onde escreve “sobre pintura” entre dois retângulos em formação, como se fossem manchas pretas inaugurais.

18. Ele está espreitando a realidade – existencial, social e política – nos seus paradoxos e insuficiências, buscando se situar nos diferentes fluxos de linguagens. Coloca-se um desafio constante para testar os limites do poder da arte para dar conta do real.

19. Maria Montero escreveu que Speridião “se refere ao ateliê como sua caverna”, para, em seguida, constatar que “Da pele brota sua geometria, seus triângulos e círculos. Tudo feito na proporção do corpo e na relação com a vida, o entorno, a história da arte, os afetos, os caminhos que percorre, as aventuras de uma mesa de bar, as viagens no tempo” (2017).

20. Seus trabalhos, brotados da intersecção da vida com a arte, estão entre o trágico e o simbólico, pois reverberam as tensões entre razão e impulso, sobriedade e absurdo, sério e engraçado. A suspensão de uma única lógica e a escolha de diferentes intermediações permite melhor aguçar o olhar e a consciência.

21. A política é outro pedaço do fazer artístico de Speridião e que atravessa esses atuais trabalhos. Nesse sentido, o artista circula pendularmente entre o ativismo das intervenções no espaço urbano e as referências da teoria política. Ele escreveu em um trabalho: “Um desenho de resistência” que induz à formulação geral da arte como forma de ação/participação. Cabe ao olhar atento descobrir quando um “manifesto” está mergulhado nas dobras dos trabalhos de Speridião!

22. Além da cor preta, às vezes, ele recorre à cor vermelha. Ela pode se intrometer ou explodir nos suportes.

23. A arte, o seu significado e a sua história permeiam a produção de Speridião. Ou escrevendo ou recortando o tecido da tela, o artista discute a arte como ilusão, os limites da representação e o poder da arte.

24. O poder da arte atravessa toda a produção de Speridião e esse aspecto se deixa entrever num certo “brutalismo visual”, menos rígido do que o brutalismo arquitetônico original (movimento europeu que atinge seu ponto máximo na década de 1960), mas marcante nas obras de Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha. Para este arquiteto, a presença do brutalismo no Brasil ocorre porque, sendo um país pós-colonial, está “condenado a ser moderno” (Heathcote, 2021).

25. As pinturas-monumentos e os tridimensionais-teatrais, dessa atual exposição de Speridião, acenam para esse movimento histórico e relevante na arte brasileira e, principalmente, paulista. Nas artes plásticas, um bom exemplo a lembrar, nessa possibilidade de aproximar brutalismo e artes visuais, é o escultor estadunidense Richard Serra.

26. As suas pinturas, que almejam o mural, quase requisitam o espaço público e insistem na presença dos retângulos e vãos entre eles. Os seus tridimensionais pesados e abertos em boca de cena teatral expressam dignidade, solidez e afirmam a presença urbana. A parcimônia no uso de materiais, a síntese na construção das formas, a sobriedade no plano e no espaço, o uso exclusivo de uma cor trazem lembranças do brutalismo. Essa aproximação mais transparece ao se acrescentar a dimensão política enquanto desejo do artista de intervenção pública e de transformação social.

27. Esse aspecto também se deixa perceber no detalhe da montagem dos trabalhos. Geralmente as pinturas de Speridião são fixadas em uma estrutura de madeira, com cerca de 15 centímetros de profundidade, resultando num bloco compacto e sólido que ocupa tridimensionalmente o espaço.

28. Nas duas séries ora apresentadas pelo artista, percebe-se a geometria; a recusa do acabamento; a explicitação da matéria, tanto da tinta quanto do gesso ou da madeira; a visualidade imediata sem mediações; a eliminação da representação; o desapego ao maneirismo e ao adorno; a valorização do retângulo; a justaposição de quadrados, a construção deliberada de espaços vazios e, ainda, o destaque do peso seja das formas pictóricas nas telas, seja dos tridimensionais.

29. Gustavo Speridião reinscreve a questão do projeto modernista nos seus trabalhos visuais, descortinando novas possibilidades desde que passe pela poética subjetiva e existencial, ou seja, desde que essas questões sejam norteadas pelo reino experimental da liberdade, conforme Mario Pedrosa.

30. O artista se localiza em uma situação da “arte crítica”, na qual a consciência do artista se sobrepõe à ideologia ou a um projeto institucional de modo que seu esforço se dirija ao avanço da linguagem e, simultaneamente, ao embate com a realidade circundante. Se aproxima, mas não incorpora uma politização da arte (Chaia, 2007).

31. Speridião produz uma poética visual baseada no desencanto trágico e no humor sem riso que nascem da absurda realidade, para oferecer outras possibilidades da arte constantemente revigorada. Para tanto, aceita o desafio de vivenciar um constante quebra-cabeça, uma vez que os seus trabalhos são partes que dialogam entre si, avançando numa estética libertária.

Bibliografia
ARANTES, O. (org.). Mario Pedrosa: Política das Artes. São Paulo: Edusp, 1995.
BENEVOLO, L. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004.
CHAIA, M (org.). Arte e Política. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2007.
HEATHCOTE, E. Arquitetura de estilo brutalista corre risco e vira alvo de Trump. Folha de S Paulo, São Paulo, 19 de janeiro de 2021.
MONTERO, M. Gustavo Speridião: Quilômetros. São Paulo: Galeria Sé, 2017.
SPERIDIÃO, G. Anotações de caderno do artista.
Miguel Chaia*
Fevereiro de 2021
*Professor na área de Ciências Sociais e no curso de Arte: Crítica e Curadoria da PUC-SP. Doutor em Sociologia pela USP. Coordenador e pesquisador do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política). Autor de várias publicações sobre Arte e Política e Arte Brasileira.
Gustavo Speridião: an art puzzle
Miguel Chaia: PhD in Sociology at the University of São Paulo (USP). Professor in the Social Sciences field and the course Art: History, Criticism and Curatorship at PUC-SP. Coordinator and researcher at NEAMP (Center of Studies in Art, Media and Politics). Author of several publications on Art and Politics and Brazilian Art.

The work of Gustavo Speridião and its conceptual foundations make up a broad panel as if it was a jigsaw puzzle with pieces that fit together and yet cause frictions that amplify the power of the artist’s production, reinforcing the diversity of supports and languages in which he easily moves. There are the decanted pieces of paintings, drawings, artists’ books, poetry, three-dimensional pieces, philosophical thought, political and urban activism, and other kinds of practices in this puzzle. He is a multi-artist with a sharp critical conscience towards art and society.
Now, in two exhibitions held by Sé Gallery at the beginning of 2021, the artist culls his production and presents two sup-ports, relating them to the respective languages: the canvas-painting and the three-dimensional-plaster. Although there is a delimitation in the production to be presented, all pieces from these groups of works carry the diversity and specifici-ties of Speridião’s trajectory. In their differences, the pieces fit together exactly because they have the artist’s conception of art and the world in common. Art-making is closely linked to an ethical-aesthetic thought.
“On painting” is the part of the current exhibition which takes place in a shed. It is a vast space that can receive the monument-paintings: large-sized canvases with an operatic vocation that aspire to the mural format and desire the public space. Usually using two poorly delineated rectangular forms superimposed in intense black, these paintings float in the can-vas space presenting words or graphic elements between these forms. Although they are anchored in synthesis and simplic-ity, these large paintings dialogue with architecture, drawing, writing, poetry and politics — such as a piece of a puzzle that needs another one.
“Time color” is the other part of the exhibition, which takes place inside Sé Gallery. It is an intimate space with three-dimensional textual aspects which, by its small scale, oppose the monumental paintings. There are smaller square volumes that open themselves to offer internal and visceral spaces as if they were pages of a book or a small downstage with captions. These rectangular objects repeat their external form in internal moulds, dug into the plaster and contain some small black stains and written words. As a whole, they bring to mind a library. The textual characteristics of these three-dimensional works refer to an open book or a space of representation. This set of objects configures an installation. In an inverse sense but complementary to the large paintings, these doubly rectan-gular works aspire to stimulate the gaze: they make us read/see the object’s expressivity and invite us to reflect slowly. The three-dimensional pieces are heavy and multiply the gravity by bringing the material’s weight and engineering.
Nevertheless, their density is relieved through an intimate approach and the presence of soft stains of drawings and graphics. The artist imprints degrees of dimensionality to a notebook page, creating a mirror game between an external and internal space. These three-dimensional pieces point to the theatre’s discreet meaning in Speridião’s thought since the the-atre refers to a presentation, acting, and critical consciousness formation. In the artist’s work, one perceives an identification with the irony and Bertolt Brecht’s method. Also, at the Sé, the drawings, leaflets, and Time color video are exhibited, rein-forcing this textual character.
As this double exhibition indicates, the set of Gustavo’s works blends a jigsaw puzzle in which unitary pieces are as rel-evant as the totality of the production — the part and the whole are organically connected and complete each other to pursue meaning. Thus, although the painting is prominent in these two exhibitions, it is only strengthened by the contributions of dif-ferent spheres and languages of art. 
For instance, whether because of the artist’s intentionality in becoming a poet or by the inclusion of words that re-signify the formal relations constructed on the canvas, the paint-ings in the show are simply paintings, but they are also visual poems. And here, the growing aesthetic potency propitiated by the relational factor enters. Through its enigma or opening to the freedom of thought, the word or short phrase enables a new organization of the plane’s events and signs. Thus, due to the reinforcement of the jigsaw puzzle image we use here to think about the art of Speridião, it is worth asking: which piece stands out, the painting or the poetry? It is impossible to answer when these are two fundamental and complementary pieces.
Gustavo Speridião places himself within a consistent trend of the Brazilian history of art, which appeals to the written word and to the text for making itself whole. Therefore, he includes himself in the group that poetizes and/or politi-cizes the word inside the plastic arts and expands the artist’s resources. The work of Speridião also refers to the Campos brothers, Haroldo and Augusto. They were concrete poets who took the opposite route — from the basis of literature to the visual arts. This literary aspect of Speridião is reinforced by his obsessive dedication to the production of notebooks/artists’ books, which can be considered a source for his artistic work. And this quality reverberates in the paintings-monuments and intimate three-dimensional pieces.
The paintings and the three-dimensional pieces exchange references and signs with each other — they have the square, the rectangles with irregular edges, the black colour alone occupying the areas, sharp graphics and indicative words — but maintaining their autonomies. One gently opens space for the other, even using the same visual resources.
Speridião repetitively creates stains in his artistic work, which insinuate geometric shapes, generally the rectangle. And he also often registers words on the supports, which imply truths. Perhaps this frequent repetition of rectangular shapes and inconclusive squares on the canvases and the three-dimen-sional works reveals a working strategy that includes and values the drawn word, aiming to explicitly expose his political, philosophical and political verve through it. The colours used are mainly black and red, which are graphic colors commonly used in newspapers and leaflets. These are colors that circulate in everyday urban life.
All the two sets in this current exhibition are parsimoni-ous, synthetic. In the paintings, we can see the large scale’s predominance and the “almost rectangles” coloured in black. The objects keep the human body’s scale and the plaster’s white outstands with the soft grey or black stains. The rectangles are either irregularly outlined by the brush or moulded in the plaster. They create modular and repetitive constructions which structure the canvas plane or the space surrounding the object. In both sets, the words are frequently present, alone or in phrases, which amplifies reflection and instigates enquiry.
From this reflection, another piece of the puzzle is put together by Speridião springs: philosophy. His artistic practice is a form of art-knowledge which generates ideas and con-cepts from a deciphering gaze. And the visual/literary/poetic philosophizing is associated continuously with good humour, which is also challenging. Thus, shapes, stains, lines and words all come together to create a ludic game toward introducing clues of knowledge. By leaving much space to be filled by the observer, the artist is interested in opening rifts that produce an art knowledge about itself, in other words, an understanding of political relations and a consciousness of reality.
“Persistence of time” — Speridião writes twice on the same canvas with enigmatic contrasting black and white rectangles which are rhythmic and have a strong presence: a wall. One can think of an update for the human interventions in the caves, now with geometric notes indicating the continuity of time in a post-technological society. According to the itinerary provided by the canvas’s extensive horizontality, this painting challenges the observer to move in time-space. From one point to the other, time persists.
Time, praxis, reality and art are some of the recurring themes in Speridião’s work. Therefore, he paints on his can-vases (or draws on papers) words such as: “hour”, “era”, 
“seems”, “was”, “perfect”, “painting”, “illusion”, “time”, “art”, “mission”, “stanza”, “releases”, “tomorrow”, “melody”; or phrases such as “The adventure begins now. It is over.” and “It is always temporary”. In art, he questions the power and the meaning of painting, among other themes. He reflects on the pictorial plane and inquiries about the unfoldings of the artist’s action on the fabric or the wood surface... to think about the conflict of illusion-reality.
In his notebook, Gustavo Speridião wrote: “the inventory of problems”. It addresses the questions: - of the pictorial plane divisions (and the political divisions of space); - of the evidence of two dimensions simplicity; - of the (plane) (2D plane) (4D plane). These concerns are seen in many works, including a canvas where he writes “on painting” between two rectangles in the process of formation as if they were inaugural black stains.
The artist is peeking the existential, social and political real-ity in its paradoxes and insufficiencies and aiming to situate himself in different flows of languages. It constantly establishes challenges to test the limits of the power of art and handle what is considered real. Maria Montero wrote that Speridião “refers to the atelier as his cave”. From that statement, Montero real-izes that “his geometry, triangles and circles spring from his skin. All according to body proportion in relation to life, sur-roundings, history of art, affections, paths he walks, adventures of a bar conversation and travels through time” (2017). His works are sprung from the intersection between life and art. They live in between the tragic and the symbolic, reverberat-ing tensions which go from reason to impulse, from sobriety to absurdity, from serious to funny. The suspension of a single logic and the choice of different intermediations allow our gaze and our consciousness to become better sharpened.
Politics is another aspect of Speridião’s artistic work, which crosses over these current pieces. The artist moves on and off between the activism of interventions in the urban space and political theory references. In one of his works, he wrote: “a drawing of resistance”. That sentence induces the usual for-mulation of art as a form of action/participation. It is up to the attentive eye to discover when a “manifesto” is plunged into the folds of Speridião’s works!
The production of Speridião is permeated by art, its meaning and its history. Either writing or cutting the canvas fabric, the artist discusses art as an illusion as well as the limits of repre-sentation and the power of art. As a matter of fact, the power of art runs through all of Speridião’s work. This aspect can be seen in a particular “visual Brutalism” — less rigid than the original Brutalist architecture (a European movement that reached its climax in the 1960s), yet remarkable in the works of Lina Bo Bardi and Paulo Mendes da Rocha. As Rocha asserted Brutalism’s presence in Brazil occurs because, being a post-colonial country, it is “doomed to be modern” (heathcote, 2021).
In Speridião’s current exhibition, the paintings-monuments and the three-dimensional-theatrical pieces nod to this histori-cal and relevant movement in Brazilian art, especially in the State of São Paulo. In the plastic arts, an excellent example of bringing together Brutalism and visual arts is the American sculptor Richard Serra. In Speridião’s paintings that aim at the mural, they almost request the public space and insist on the presence of fissures. His heavy and open three-dimensional pieces express dignity, solidity and affirm the urban presence in a theatrical downstage style. The parsimony in the use of materials, the synthesis in the construction of forms, the sobri-ety in plan and space and the exclusive use of one color bring back memories of Brutalism. This approximation becomes clear when we add the political dimension noticed in the art-ist’s desire for public intervention and social transformation. One can also perceive this aspect in the details of the works’ assembly process. Generally, Speridião’s paintings are fixed on a wooden structure of about 15 centimetres deep, resulting in a compact and solid block that occupies the space three-dimensionally. In the series now presented by the artist, one can perceive the geometry; the refusal of finishing; the explicitness of the material, that being either ink or plaster or even wood; the immediate visuality which comes without mediations; the elimination of representation; the detachment from manner-ism and ornament; the valorization of the rectangle form; the juxtaposition of squares; the deliberate construction of empty spaces; and, at last, the emphasis on weight, whether in the pic-torial forms on the canvases or in the three-dimensional pieces.
Gustavo Speridião re-inscribes the Modernist project matter in his visual works and unveils new possibilities for art, as long as they pass through a subjective and existential poetics, in other words, provided these issues are guided by the experimen-tal realm of freedom as claimed by Mário Pedrosa. The artist is located in a situation of “critical art”, in which his political consciousness takes precedence over ideology or an institu-tional project. His efforts are simultaneously directed towards the advancement of language and a clash with the surrounding reality. It approaches a “politicization of art” situation but does not incorporate it, as the artist acts politically, systemati-cally and institutionally (chaia, 2007).
Speridião produces a visual poetics based on tragic disen-chantment and humor without laughter. These aspects are born out of the absurd reality and ambition to offer other possibili-ties for a constantly reinvigorated art. For this, he accepts the challenge of experiencing a constant puzzle since his works are parts that dialogue with each other, advancing in a libertarian aesthetic proposal.
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