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Exposição Individual/Solo Exhibition
A gente surge da sombra, 2015
Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale. Galeria Mercedes Viegas.
Rio de Janeiro, Brasil
GUSTAVO SPERIDIÃO: A gente surge da sombra.
O trabalho de Gustavo Speridião atravessa não somente o campo das imagens técnicas (fotografia e vídeo), mas também (e sobretudo) o universo tradicional de dois dos meios mais consagrados pela produção visual dos últimos séculos : pintura e desenho.
Ainda que esses atravessamentos possam ser interpretados como sintomas de uma disponibilidade multimidiática do artista, tal observação pode ser tomada, inversamente, qual um profícuo caminho para desconstrução poética e critica da fé modernista nas diferentes possibilidades de uso de cada meio técnico, cuja potência e limites os distinguem, sintaticamente, um dos outros .
Daí talvez o desconforto daqueles que vêem nas pinturas do artista elementos das “linguagens gráficas,” ou a desmaterialização dessa arte pelo uso poético e conceitual da palavra pintada em quadros pouco “pictóricos”. Seus desenhos também instauram questões semelhantes. Eles não diferem essencialmente das telas e são, em alguns casos, até mesmo mais pictóricos que algumas delas. Temos, portanto, sinais de que sua poética não favorece enquadramentos discursivos formalistas.
Speridião apropria-se tanto de ícones, quanto de traços emblemáticos da vida social, da prática política, de motes ideológicos e da afetividade fundadora que flui ininterruptamente nas ruas, com a circulação de pessoas de diferentes classes sociais, crenças e comportamentos.
Cristalizada por meio de traços, gestos, cores que permeiam a fatura visual do trabalho de Gustavo a dinâmica cotidiana da rua, entretanto, pouco contribui para a crítica da histórica estratificação da vida social brasileira.
Tal contradição entre cotidiano e história constitui o cerne poético da obra de Gustavo. Ao ultrapassar (ou superar) o âmbito específico de cada uma das diversas linguagens em que se dividia o campo convencional das artes visuais ele recupera-o em sua integridade sintático-semântica, assegurada, nas obras, pela palavra ou por pequenas locuções de diversos teores.
Sem hierarquias que não as de suas próprias experiências, como acontece diuturnamente nos fluxos das ruas, Gustavo aciona e constrói, por meio de motes verbais de forte apelo político ou pela evocação da sutil delicadeza humana, parte do sentido poético (oculto) da experiência humana
Fernando Cocchiarale
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